Confesso que há muito tempo espero ver o poder público reagir diante do que vem acontecendo com nossas crianças. Por isso, recebi com alívio e entusiasmo a notícia de que a Câmara Municipal de Macaé aprovou o Programa Municipal de Proteção Digital da Criança e do Adolescente esta semana.
O projeto, proposto pelos vereadores Cesinha (CID) e Dra. Mayara Rezende (REP), é uma resposta direta a um problema que já passou dos limites: a adultização precoce de meninos e meninas nas redes sociais. A proposta prevê educação digital nas escolas, parcerias com plataformas online e canais de denúncia para combater sites e conteúdos que expõem crianças a temas e comportamentos totalmente inadequados para a idade.
E eu não poderia concordar mais. Estamos diante de uma geração que, antes de aprender a brincar, aprende a performar — a se filmar, se comparar e se vender por likes. E isso não é “evolução”, é perda de infância.
O caso recente do influenciador Felca, que gerou polêmica nacional e até legislação federal, escancarou o tamanho do problema. Foi preciso um episódio público e constrangedor para que o tema entrasse de vez na pauta. Mas, felizmente, Macaé decidiu agir antes que mais danos sejam causados.
Durante a votação, alguns discursos me chamaram atenção. A vereadora Leandra Lopes (PT), por exemplo, lembrou que é hora de questionar o papel das redes sociais e o avanço das bets, os sites de apostas que seduzem adolescentes. Concordo com ela: não é ser contra a tecnologia, é exigir regulação e responsabilidade.
Já o presidente Alan Mansur (CID) fez uma observação dura e verdadeira: muitas vezes, as crianças estão sendo feridas dentro de casa — e os pais nem percebem. Em meio à correria e ao cansaço, falta tempo até para brincar junto.
Para lá da boa intenção
Por sua vez, Edson Chiquini (CID) foi direto ao ponto: “Elas não soltam mais pipas, nem brincam de pique-esconde”. Ele tem razão. A infância foi sequestrada por telas que substituíram o quintal, a rua e a imaginação.
Amaro Luiz (PV) disse algo que resume o sentimento de muita gente: “A tecnologia avançou mais rápido do que a capacidade das famílias lidarem com ela”. É exatamente isso.
A aprovação unânime mostra que, pelo menos nesse tema, há um necessário e fundamental consenso: é preciso proteger nossas crianças. E eu apoio integralmente. Mas é importante ir além da boa intenção. O programa precisa sair do papel, virar realidade nas escolas, nas campanhas públicas e nas famílias.
A infância não pode continuar sendo exposta, explorada e transformada em conteúdo. Macaé deu um passo importante. E eu torço para que outras cidades sigam o mesmo caminho. Porque defender a infância não é um gesto retrógrado — é um ato de amor e de responsabilidade social.